Eu estou absolutamente cansada de ser a tia da creche que pega a mão de cada fulaninho que brigou e diz pros dois fazerem as pazes.
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Também acho que não fiz nenhum curso de Diplomacia pra servir como tal.
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Tudo que o que eu vou receber com isso tudo é uma morte prematura por úlcera explodida ou ataque cardíaco e, sinceramente, não seria das opções mais agradáveis agora. Consigo pensar em muitas outras coisas que eu preferiria fazer.
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Eu acho que, assim como em uma guerra, não tem lado certo nem errado, nem lado que sai ganhando ou perdendo. Na verdade, tem sim. Os dois estão errados. Os dois saem perdendo.
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Eu fui criada de modo a respeitar sempre meus professores e acredito que esse seja de fato o certo. Já cheguei a chorar – e muito – em sala de aula a fim de engolir em seco o que uma professora minha me dizia acerca do que ela achava que seria meu fracasso na vida. Por mais que eu a odiasse por motivos muito mais concretos do que os que eu vejo sendo manifestados agora – nenhum de carga pessoal – eu sempre a respeitei.
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Já que todos aqui têm facilidade para isso, imaginem-se no Japão, ok? Vocês tomariam as mesmas atitudes que tomam hoje se fosse lá? Se fossem japoneses? Se o professor fosse japonês? Mas, principalmente, se estivessem lá? Não, claro que não. Vocês estão no freacking Brasil. E eu acho, como até mesmo alguns de vocês mesmos já disseram antes de mim, que o maior problema do Brasil é a educação. E que a educação japonesa é a que deveria ser imitada. Bom, então comecem, né!
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De novo, acho que os dois lados estão errados, então essa é uma crítica bem geral. Os dois lados, ou três, ou quatro, ou sei lá eu em quantos lados essa budega já foi divida, enfim, todos estão errados e me incomodando profundamente. A ponto de eu respirar e parecer que o ar não chega. A ponto de eu expelir o ar e o que quer que está dentro de mim não sair. A ponto de eu beber água e a garganta continuar seca. A ponto de eu escrever e o coração continuar acelerado.
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Eu não sou um mensageiro, eu não sou uma coruja. E eu acho que as coisas devem ser ditas diretamente. Tomem coragem, for God’s sake, porque eu não quero mais ser ao mesmo tempo o morto da guilhotina e o carrasco. Isso não é o que acontece quando se fala com as pessoas. O máximo que acontece – pelo menos entre nós, pessoas mais ou menos civilizadas e de certa educação – são tons de voz alterados, brigas, xingões. Pra quem não sabe o que é isso, vou ser como uma mãe levando o filho pra tomar injeção: não dói tanto. Incomoda, mas não mata ninguém.
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Além disso, acho também que essa situação toda está “espalhada” demais. Não sei e não me interessa, sinceramente, como se deu a “espalhação”, mas eu estou achando que está mais pra palhaçada. Digo que está espalhada no sentido de que tem gente demais. Só quero ver quantas pessoas vão vir falar/brigar comigo depois. Vou contar o número e ver quantos desses têm, de fato, alguma ligação direta com a história. Então, se não tem ligação direta, diga: “bem, estou de fora, mas acho que, seja o que for – pois eu não faço ideia do que está acontecendo. Mesmo. – vocês deveriam resolver entre vocês.” Atenção ao verbo: RE-SOL-VER . Nada de ignorar. Nada de falar por trás. Nada de jogar panos quentes por cima. Nada de abafar.
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Não sei quantas vezes eu disse pra esquecer do assunto, que eu preferia não tocar nele, ao ver que não tinha jeito, que ninguém estava disposto a ir muito além daquilo que já tínhamos ido. Porque sim, nós falamos diretamente muito antes de falar por trás. Em não tendo surtido muito efeito, ou pelo menos não o efeito desejado pela maioria, até compreendo que a maneira que cada um tenha para lidar com a situação seja diferente. Seja como for, nenhuma delas é a minha, então vocês devem estar entendendo o motivo de eu estar tão incomodada, não? Eu fico no meio, é por isso. Eu sou forçada a assumir ao mesmo tempo as maneiras individuais de cada um para evitar o linchamento por todos os lados e todas juntas ao mesmo tempo para servir de diplomata. Só eu, certo? Porque até onde eu sei, temos núcleos de individualidade coletiva. Individualidade coletiva. Porque, apesar de serem grupos, não tem comunicação nenhuma com o exterior. Fora eu. Então eu tenho que fazer a comunicação.
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“Ai, Ana, cala a boca, tu faz porque tu é boba. Tu faz porque tu é burra. Tu faz porque tu quer.”
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Não, EU faço porque não tem quem faça. EU faço porque não tem ninguém com coragem de continuar, mesmo que até tenha coragem de começar. EU faço porque EU acho, segundo o que a MINHA moral dita, que é o certo. Nenhum de vocês vai contra si próprio, não é? Então porque eu tenho que ir? Azar, achem o que acharem, na minha opinião, o certo é ouvir, respeitar e resolver. Não fugir. Ou, até, dos males o menor. Se for para não sair brigando, até tudo bem, vá, omita-se. Mas então que se omita de fato. Não esbugalhe os olhos nem espume pela boca nem agrida móveis nem grite em frente a quem inclusive tem – e tem vários – pontos de concordância com você. Notam? Está tudo bem o contrário, não está? Não seria melhor fazer que nem uma grande reunião de família, brigar todos os podres pra fora, mas pelo menos resolvê-los com quem tem que ouvir? Sinceramente, do que adianta para o bem estar de cada um de vocês desopilarem comigo? O que eu posso fazer além do que eu já estou fazendo, que é a ponte? E que, diga-se de passagem, já é bem mais do que eu deveria, ou bem mais do que qualquer um se prestaria a fazer. Eu sozinha não tenho como resolver nada, então de que adiantou até agora tudo o que ouvi e sei, direta ou indiretamente? Nada mudou, não é?
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Eu também acho, e vocês sabem que eu acho, que segredos servem mais pra nos causar danos do que para proteger. Quem me conhece sabe que eu não tenho segredos. Respeito o segredo dos outros, caso alguém o peça. Posso até discordar, mas se vierem com “Por favor, não conte”, não contarei, certo? Se não me disserem nada, tomo como meu, para meu livre uso de acordo com a adequação ou não ao caso. Portanto, sigam meu exemplo. Esqueçam esses segredos. Ponham pra fora com quem precisa ouvir. Com quem terá diferença se ouvir. Qual é o máximo que pode acontecer? Pensem bem no máximo que pode acontecer. E vão ver que nem é tão “máximo” assim. É bem pior manter as coisas do jeito que estão.
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No fim, quase ironicamente, estou me dando conta de que o maior interessado é o menos presente! Não estou dizendo que seja oh, a vítima. Só estou dizendo que nem está sabendo. Ou, se estiver, faz taaaanta diferença… (isso foi irônico, caso alguém não tenha notado). Eu tenho minhas reclamações pessoas acerca dessa pessoa também, mas eu posso dizer que o que mais me incomodava já foi falado. O resto me incomoda tanto que eu sou muito bem capaz de ignorar no momento em que ocorre e não sentir necessidade nenhuma de falar sobre isso depois. De fato, nem me lembro ou antecipo durante meu dia tal e tal coisa que sejam “insuportáveis”.
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Claro, isso sou eu. Compreendo que alguns sintam-se tão mal a ponto de sentir que vão explodir caso não tenham uma válvula de escape. E que outros sintam-se tão mal por causa de como os anteriores lidaram com o sentimento que estava preso. E depois que os primeiros sintam-se mal por causa dos segundos e por aí vai até que OLHA!, notaram como nem tem mais nada a ver com o primeiro assunto, que era uma pessoa só? O que ME incomoda é justamente o fato de isso não ter mais nada a ver com essa pessoa. É isso que causa em mim as mesmas palpitações e vontade de possuir uma válvula de escape. Absolutamente nada a ver com a primeira pessoa, que agora só virou um tópico, uma desculpa. Uma Helena de Tróia – apenas outra pessoa, talvez meio chatinha, com defeitos E qualidades, mas absolutamente passível de convivência. Nem de longe tão importante, ou tão perigosa, ou tão vítima para ser um motivo suficientemente bom para se começar uma guerra.
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Se qualquer um dos lados me acusar de traição, acho que meu maior argumento é que sou fiel a mim mesma, à minha moralidade e às minhas opiniões. E se escrevi o que escrevi é porque notei que algo pequeno demais e inicialmente fácil de se resolver acabou por se transformar em um câncer nocivo não apenas para um, mas para todos nós. Ignorar o problema não faz com que ele diminua, muito menos com que ele suma.
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E, como essa história toda já estava de tal modo espalhada que continuar achando que era segredo era apenas questão de aparências, tomei a liberdade de deixar aberto a quem interessar possa. Afinal, tudo aqui é basicamente a minha opinião e, eticamente, nenhum nome foi citado. Os interessados hão de se identificar com facilidade.
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Espero que, como uma sociedade, ou pelo menos como um recorte de uma, possamos achar uma solução madura e em conjunto. E, como minha reclamação tem a ver com o fato da falta de comunicação que está acontecendo por aqui, continuo aberta para caso façam essa comunicação acontecer, desde que seja feita, é claro, civilizadamente.